Em Novembro passado tinha recebido um convite especial do Lauro Monteiro, o de integrar uma comitiva Torriense para rumar até Araraquara, no estado de São Paulo, Brasil, a fim de continuar com a parceria político-cultural que tem juntado as duas cidades nos últimos 4 anos, na altura em que o Projecto Arte ao Centro quebrou fronteiras e navegou o Atlântico. Ás 8:00 de 17 de Maio, eu carregava um misto de emoções ao rumar para o Aeroporto Humberto Delgado. Se por um lado estava entusiasmado pela ideia de conhecer outro continente, outro país, uma cultura diferente e ir para um lugar longe da pressão turistica; Por outro estava nervoso e já com saudades de casa e da família. Iriam ser 12 longos dias sem a esposa e a filha e isso corroía-me por dentro à medida que o A330 da Azul se afastava de terras Lusas. Desenhei o que pude com a pouca vontade que tinha: O André ao meu lado fazia o mesmo com um semblante carregado e cansado tal como eu estava; A Olga ao meu lado fazia o que eu gostaria de ter feito, dormir que nem uma pedra; A Cátia explorava o que o seu telefone lhe permitia em "Flight Mode"...
Após um combinado de 18 horas de viagem, só deu tempo para comer uma sopa e ir directo para minha cama na minha morada dos próximos tempos: Araraquara. No dia seguinte, após montarmos a exposição dos artistas de Torres Vedras na Casa da Cultura, eu, o António Bartolo, o Simon Taylor (Curitiba) e o Nelson Polzim (Rio) fomos para a Praça da Matriz para fazer uns riscos. O que me espanta nesta cidade tal como em muitas cidades Brasileiras, são os cabos de electricidade/telecomunicações, com uma espessura de "fiamento" que por vezes ultrapassava 1 metro! As sombras que toda aquela parafernália projectava nos edifícios no final de tarde, era qualquer coisa de fantástica e isso era algo que eu teria de desenhar.
A Igreja Matriz surge na praça, pelo meio de uma mini Selva Urbana e quase que fora de escala, pois a sua dimensão VS largura da Praça são do mais desproporcional que já vi. Claramente uma construção nova sobre uma pré existência que tal como se faz em Portugal, deita abaixo edifícios icónicos lindíssimos para dar origem a elementos de gosto enfim, duvidoso... Ainda assim, uma imponência destas tornada ex-libris da cidade, era algo que não poderia faltar no meu caderno.
No dia seguinte acordámos bem cedo para o inicio do Encontro de Desenho de Rua (acho esta expressão nacional bem mais elegante) onde os participantes iriam fazer "croquis" do Parque do Pinheirinho, bem longe da confusão da cidade. Fomos baptizados (mesmo...) por uma tempestade tropical, com uma chuva vinda de umas nuvens como eu nunca tinha visto antes, pelo que tivemos de nos abrigar para ver o Mestre António Bartolo em acção na sua primeira demo/workshop. A água caia com uma força desmesurada que nem o abrigo chagava para nos proteger devidamente. A areia em torno do lago depressa virou terra cada vez mais encarniçada que volta e meia reflectia o céu branco e cinza.
À primeira aberta, fugimos para a capela mas nem assim conseguimos escapar ao frio e algumas gotas de água que insistiam em cair sobre todos. Desenhei aqui o que era possível ver, o arvoredo e algum mobiliário urbano na distância.
Depois de almoço e quando a chuva deu tréguas, fomos até a belíssima fazenda do Salto Grande onde orientei um rápido workshop/encontro de desenho demonstrando a técnica que costumo usar de poucas cores e altos contrastes. Aqui desenhei um dos casarões que outrora hospedava barões de café e hoje hospeda os milionários que estão dispostos a pagar milhares de Reais por dia.
Continua...
Lindo demais Pedro. Eu como araraquarense fico muito feliz com seus relatos. obrigada.
ResponderEliminarA dormir que nem uma pedra????? Em modo descanso queres tu dizer ����
ResponderEliminarPedro, as suas observações me fez abrir os olhos a situações urbanas que eu nunca havia prestado atenção. Muito bom!!!
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